sábado, 23 de julho de 2011

Visita.

E adentrava a vizinhança, munido de um buquê de flores mortas e um conjunto de dentes tortos à mostra, além dos brilhantes olhos que agora mal lhe cabiam na face. E rondava entre os lares, os pilares, buscando aquele que era a morada de sua amada. Aquela que amava já de modo incondicional, a da pálida pele, dos curtos cabelos, a dos oleosos - e sempre vazios - olhos. E apesar de não portar nenhum grande sorriso ou braços abertos, ela sempre estava lá para recebê-lo de bom grado.

E lá estava ele batendo à sua porta de madeira apodrecida sob a luz da linda lua que subia aos céus, quase tão majestosa quanto a mulher que ali jazia. Sua por toda a madrugada.

Dali a pouco já estavam despidos e de corpo um no outro, num atrito gelado, embalados pelos urros que ele desferia aos quatro ventos, repetindo que a amava para que apenas as estrelas testemunhassem.

Por fim, se sentava, chorava um pouco, acendia um cigarro. Vislumbrava-a em seu frágil ser de porcelana, sem retribuição, enquanto a garota visava apenas o escuro véu de céu pendurado sobre as suas cabeças.

Então, quando o sol ameaçava pender sobre a linha do horizonte, vestia as roupas de sua amada com o mesmo cuidado criminoso - e apaixonado - que usou para despi-la. Daí volta a abraçá-la e beijá-la para só então devolvê-la ao seu túmulo e ir embora, carregando a mais suja e incontrolável das paixões em suas pesadas costas.